DIAS DESDITOSOS
Se insto muito em te amar
É porque me agrada o teu amor,
E pelos cantos que vou andar
Serão meus cantos de dor.
Se nisso tenho ganho secundário,
Se pela face da plácida lua
Me irrompo vazio e solitário,
Vagando tonto, eu e a rua.
E tomei atitudes desabridas
Que de veras te assustaram,
Mas dentro em mim as feridas
Me corroeram e me amargaram.
Mas meu coração levítico
De nato sacerdócio sabádico
Elevara um voto explícito
Sem conotação de lunático.
Na minha ira te repreendi,
Falei horrores no meu furor
Pela minha honra que contendi,
Por ti, por nosso amor.
Eu não sei ficar sem a tua silhueta
A bailar modesta diante de mim
Nas manhãs como a borboleta
Cheia de cores voando pelo jardim.
Então vai mais um dia minguar,
Mais uma noite irei verter,
Mais uma estrela sem brilhar,
Mais um cíclo sem te ver.
Gira a terra e o sol brilha,
O manto noturno cobre cintilante
O claro cansaço do dia na ilha
Que pairou angústia sufocante.
Já a minh´alma alheada
De languidez triste sofrer,
Esta liberdade magoada
Não me deixa livre viver.
Só me resta agora velejar
Nos meus suspiros lacrimosos,
Sem fado, sem onde ancorar
O meu barco dos dias desditosos.
(YEHORAM)