Lalá não vai morrer.

Lalá está sofrendo.

Um sofrimento doloroso, vigoroso.

Um sofrimento que faz a dor sentir pena, que faz a dor pedir perdão.

Um sofrimento que não tem fim neste momento.

Um sofrimento que não tem alforria, nem descanso.

Ela não vai morrer.

Seus olhos já se afogaram de tanto chorar, de tanto pedir clemência.

Ela nem aguenta gemer mais.

Ela nem aguenta mais pedir ajuda.

Ela não vai morrer.

Seus ossos estão jogando a toalha,

a sua pele não suporta mais tantos espinhos,

seu sangue já está querendo parar de correr.

Ela não vai morrer.

A sua voz já está virando um imenso silêncio,

seu peito mal consegue arrebatar um punhado de ar,

sua carne ainda resiste como mártir anônima.

Ela não vai morrer.

Dentro dela, algo pulsa com ímpeto juvenil,

dentro dela, bem lá dentro, algo lhe dá sustento, lhe dá vida.

Por isso ela não vai morrer.

Ela sabe que todo este martírio tem razão.

Talvez a melhor razão do mundo.

Ela não vai morrer.

Aquela dor, aquele sofrimento, aquilo tudo estava destinado para

outras almas.

Destino certo, com certeza. Talvez não tão certo assim...

Ela sempre soube disso. Ela não vai morrer.

E quando pediu a Deus para que todo aquele mal aportasse no seu corpo, sabia muito bem o que estava fazendo.

E o preço que isso teria.

Fez isso com a sabedoria dos mestres e com a grandeza de alma que só os grandes santos são capazes de ter.

Lalá está muito feliz. Talvez bem mais feliz do que alguma criatura pode ser neste mundo, porque está cumprindo a sua missão.

Ela não vai morrer.

Amém.

(Este texto foi escrito após ouvir de um colega que a sua cachorra estava muito mal, com câncer. E que ele ouvira dizer que os cachorros têm a capacidade de pegar para si algumas coisas ruins que viriam para seus donos).

Lalá morreu às 5 horas da manhã do dia 15/5/11 após 3 meses de muito sofrimento. A sua família, humana e canina, acompanhou de perto todo este período e hoje tem a certeza de que foi feito tudo o que foi possível para evitar este triste desfecho. Antes de partir, levantou a patinha e se despediu. Certamente foi para outra dimensão com a inabalável certeza do dever cumprido. O rastro deixado de alegria, fidelidade e companheirismo nunca será apagado. Que descanse em paz.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/04/2011
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T2915710
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