Incesto

A pena com pena de meu instante

anima instintos não animais;

acena à cena que fulge adiante

a mata que mata, a fome dos cardeais

Aponte o caminho que leva à ponte

anexo um argumento no qual há nexo,

atente às opções que há, tente,

cubra a nudez, cubra o sexo.

Ágora vazia no silêncio de agora,

o corpo lasso, não cai no laço;

diz, curso livre ao discurso lá fora,

o paço convida e eu não passo.

Época que a inspiração é pouca

traz o poeta pra parte de trás,

tempera a vida a têmpera louca,

no justo retiro que um justo faz.

Guarda trastes com ares tristes,

contem outros, o que a vida contém,

arrede a rede onde dormistes,

a fada do poeta fadado ao desdém.

A mor sina de esfriar o amor,

pro texto indiferente, eis o protesto;

amador pero não ama a dor,

só lhe dão uma irmã, solidão; incesto.

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 31/05/2011
Código do texto: T3005243