LAMENTO
Ao ver a doce alma chorosa
Que sofre mártir de tanto amor,
Sofre e chora orvalhos de rosa
Na alvorada, manhã chuvosa,
Goteja amores nas pétalas da flor.
Depois do estio espande a verdura,
Banhada do sol, ficaram gotas ainda,
Que molhavam os pés desta ventura,
Na alfombra tranquila soava loucura,
Por chorar a alma esta paixão infinda.
Então nas noites longas sombrias,
Em que não se via estrelas fulgentes
A alma em lágrimas que gotejam vazias
E se envolve nas trevas vis e frias,
Sem esperanças, sem estrelas ridentes.
Na manhã que renasce mais um dia,
Não entende a alma esta morte,
Do amor que de bem lhe cobria
Mais feliz, mais intensa alegria,
Não entende e não há quem conforte.
(YEHORAM)