Decadência Ideológica.

Era um Hippie lírico que nos auréolos meandros primaveris da década de setenta do século XX transcendera em Cock Astral Flor de Lótus de Katmandu. O profético nome que escolhera para si. Não mais seria chamado Clovis Ferreira de Lima. Era nome pudico demais, e hippies não eram seres para serem pudicos demais.

Os cabelos crescidos, aos ventos esvoaçantes, os dentes alvos e a mente transcendente faziam com que a paz reinasse prevalecente no interior de sua mente. Sua vida não era a vida que a todos via nas ruas, aos montes, labores, dores, famílias e pilhas e pilhas de amontoados de coisas da vida. Ruelas e sarjetas quentes, trabalhadores de sol a sol, mulheres rendeiras se rendendo ao espancamento de uma vida crua e implacável.

Tudo aquilo, aos olhares lacrimenjantes de um pacificador, catalizador de toda dor, era insuportável.

Rumou para a selva, a montanha, o despenhadeiro, construiu e destruiu idéias em menos de meia hora, acendeu fogueira e viu o pôr e a aurora, mas agora, agora ali fora, o mundo efervescente tinha comida quente e um leito onde pudesse descansar os ossos de ideólogo frustrado.

Queria voltar, mas era tarde demais...

Os cabelos esvoaçantes endureceram com o tempo e a poeira, os dentes outrora alvos, foram se caindo e os restantes se empretejaram. Suas palavras não mais ecoam nos ventos, seu tempo se foi e vive o passado de vinis empoeirados, ao lado de alguns gatos e cães de rua, numa Cohab cedida pelo governo Maluf...

Savok Onaitsirk, 06.06.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 06/06/2011
Reeditado em 06/06/2011
Código do texto: T3017360
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