Se o amor não é o bastante...

Você escreveu seu nome na areia para que as ondas o apagassem,

rasgou as memórias do que fomos juntos para seguir sua vida certinha,

renegando aquele tempo quando sorrisos eram tudo o que tinhamos,

quando acordar leve e manter o outro no pensamento era a regra,

quando cuidavamos um do outro com carinhos e poesias,

quando você assumia os contornos dos meus desenhos em giz de cera,

quando eu ainda acreditava no destino que havia nos aproximado,

quando eu imaginava que sentimentos eram mais fortes que tradições,

quando eu a via fora do formalismo que aprisionava pessoas comuns,

você escolheu não me ver com seu coração mas com sua lógica...

Deixamos escapar as emoções como água por entre os dedos,

Deixamos as libélulas da boa sorte voarem para longe,

Deixamos as lágrimas secarem em nossos rostos impassíveis,

Deixamos o encantamento afogar-se no oceano de nossas almas,

Se o amor não é o bastante, nos sentamos sobre nossa solidão,

fingindo não ser nossa a tristeza que nos abate...

Você buscava alguém que só foi capaz de amar na teoria,

alguém que habitou seu imaginário em cômodas teatralizações,

e não foi capaz de compreender que sol e rosas também ferem,

na claridade que queima os olhos ou espinhos que cortam as mãos,

você remoeu os motivos da perda entre mágoas e decepções,

procurando respostas em ventos vazios de sentido,

olhando fixo para horizontes avermelhados em um céu cinza,

sorvendo o desespero que nos fere o amor próprio,

marcando nossos pulsos com algemas de desespero,

gritando na mudez da raiva de noites mal dormidas...

Se o amor não é o bastante, fingiremos a eternidade não nos importar?