ESPELHO, ESPELHO MEU...
À noite
Enquanto escovo os dentes
Um homem amargurado
Me fita através do espelho.
Em seus olhos turvos
Como se tivesse chorado
Vejo tarjas em vermelho.
De sua boca rasgada
Quase num esgar
Pende a última ironia.
Onde foram parar
Aqueles tantos e bons propósitos
Do início do dia?
Sobre quantos ele fez desabar
Sua propotência
Sua ira, sua antipatia?
Do quarto contíguo
Vem o soluço sentido
Do menino mais velho.
Nem gesto brusco
Pego a toalha de rosto
E apago aquela miragem
Resmungando a esmo:
- Perdão, meu filho
Se levantei a voz e a mão contra você.
Somente agora
Talvez tarde demais
Percebo que brigava comigo mesmo.