DESERTO
Andava pelas esquinas e becos
Meu seio era a porta entre ele e a rua
Vi os rostos arrebatados com a dor e com a fome
Apenas lembro de seus olhos como um eco
Não sei como escapei de seus braços
Não sei como escapei de seu peito
Andava pelos bares e praças
Meu seio era a porta entre ele e a mágoa
Senti o mundo solitário de traças
Apenas lembro de meu braços contraírem meu peito
Não sei como escapei de seus beijos
Não sei como escapei de sua alma
Andava pelo mundo solitário
Meu seio era a porta, a porta vazia de um sonho sedento
Procuro o cálido sorriso transformado em lágrima
Apenas a andança dos peregrinos satisfaz
Não sei como ser de novo feliz
Andava pelo vazio dos mudos, dos surdos
Andava pelo fim do Policarpo
Andava pelos trejeitos tortos da língua
Andava e somente andava
Num desejo louco de sumir pelo mundo
Num desejo louco de virar pó
Da saudade do que se teve e no anseio do que se busca
Calejada minha mente peregrina
Pelos vales rodeados de ondas
Pelas neblinas calmas das pradarias
No som da música medíocre
Andei pelos dez mandamentos
Procurando entre a Bíblia a felicidade
A lei que explica o sentimento
Que explica a infelicidade que pertenço
Onde foi parar meu deus, onde?
Onde o Senhor botou a fé? A paciência? A virtude?
Andei por tudo! Perguntei a todos
Convivi com tolos
E as almas senhor? E as almas?
Só vejo escuridão
Permaneço atento
Mas meu coração lateja
Quero amor
Quero luz