Olhai não só para as estrelas no céu

Tire as vendas dos teus olhos negros escuros

Obscuros que a tudo turvo vê

Enxergai-vos as mazelas ao vosso redor povo meu

Pois quero entoar um novo canto de quem ainda não morreu

Quero compor e mostrar um hino há muito tempo escondido

Um hino as meninas oprimidas

Meninas que perambulam pelas ruas

Mendigando o pão, sapateando o chão, chorando como cão

Meninas malabaristas trabalhando no circo que é a vida

Se apresentando como artistas em um palco montado em um farol

Numa esquina qualquer andando de leu em léu atrás de um vil metal

Meninas malabaristas lutando para ganhar sua comida

Recebendo um trocadinho de cada motorista

Sobrevivendo ainda mamando em tetas caídas

Murchas arrependidas por suas vidas sofridas

Meninas jogadas de um lado ao outro

Como o vento sopro, descuidadas, mal alimentadas,

Ignoradas, tocadas e surradas...

Meninas invisíveis, entristecidas

Machucadas, invadidas...

Meninas desterradas, maltratadas

Açoitadas...

Meninas perdidas, desaparecidas

Escondidas...

Sem pai, nem mãe

Mas grita ao fundo uma garganta maldita

Quem é o pai dessa criança sofrida?

Onde esta o dono dessa matança?

Que é que vai pagar essa dança?

Será que são os desgraçados e descompromissados adultos?

Que irresponsáveis criam e ensinam meninas invisíveis a se virar

Se omitindo ainda em suas vidas desprezíveis assumir os seus Matheus

Que balançando como em um picadeiro

Não tem embaixo de sim nenhuma rede para se salvar,

Mas apenas os braços de Deus como esteio seu

Para no chão não se arregaçar

Por isso digo agora povo meu, olhai não só para as estrelas penduradas no céu

E sim para as meninas malabaristas invisíveis, mas não aos olhos teus

Marcello dos Anjos
Enviado por Marcello dos Anjos em 04/08/2011
Reeditado em 04/08/2011
Código do texto: T3138770