Olhai não só para as estrelas no céu
Tire as vendas dos teus olhos negros escuros
Obscuros que a tudo turvo vê
Enxergai-vos as mazelas ao vosso redor povo meu
Pois quero entoar um novo canto de quem ainda não morreu
Quero compor e mostrar um hino há muito tempo escondido
Um hino as meninas oprimidas
Meninas que perambulam pelas ruas
Mendigando o pão, sapateando o chão, chorando como cão
Meninas malabaristas trabalhando no circo que é a vida
Se apresentando como artistas em um palco montado em um farol
Numa esquina qualquer andando de leu em léu atrás de um vil metal
Meninas malabaristas lutando para ganhar sua comida
Recebendo um trocadinho de cada motorista
Sobrevivendo ainda mamando em tetas caídas
Murchas arrependidas por suas vidas sofridas
Meninas jogadas de um lado ao outro
Como o vento sopro, descuidadas, mal alimentadas,
Ignoradas, tocadas e surradas...
Meninas invisíveis, entristecidas
Machucadas, invadidas...
Meninas desterradas, maltratadas
Açoitadas...
Meninas perdidas, desaparecidas
Escondidas...
Sem pai, nem mãe
Mas grita ao fundo uma garganta maldita
Quem é o pai dessa criança sofrida?
Onde esta o dono dessa matança?
Que é que vai pagar essa dança?
Será que são os desgraçados e descompromissados adultos?
Que irresponsáveis criam e ensinam meninas invisíveis a se virar
Se omitindo ainda em suas vidas desprezíveis assumir os seus Matheus
Que balançando como em um picadeiro
Não tem embaixo de sim nenhuma rede para se salvar,
Mas apenas os braços de Deus como esteio seu
Para no chão não se arregaçar
Por isso digo agora povo meu, olhai não só para as estrelas penduradas no céu
E sim para as meninas malabaristas invisíveis, mas não aos olhos teus