Desancar
Frio e frouxo!
Esses dias tão degredados
Ao sorrir, fecham-lhe a cara
Com um desdizer insuportável
Frouxo quão as cicatrizes da vida
E a saída ainda dantesca
E a mão amiga, deveras a de Judas Iscariotes
E o irmão que negará o pão
Um dia após ser ajudado
E negado fora. Tiraram-lhe a vida
Não essa, que sem ela tudo acabou
Mas, lhe tiraram o filho
Numa noite chuvosa de verão
Seus únicos amigos
O cigarro, o trago, o papelão
E uma marquise
Que lhe protege a meio corpo
E o que lhe sobrou o soco,
Que a vida o deu mesquinhamente.
Os espinhos que ele mesmo semeou
São entraves a cada soluço
E de bruços, a calma de seu corpo fala.
De manhã
Olhar cinza
E sorriso desdentado
E um saco com todo o seu tesouro ao lado
Frio e frouxo. É o iniciar dos mesmos passos.