Fuga
Fujo da vida
como monges
em mosteiros
tentando dominar
sonhos e desejos.
Amargo o tic-tac
dos relógios
que me faz
correr como as horas.
Apenitência
é saber do amanhã.
O hoje não seduz.
Castigo o corpo
com varas
que varam
o arrependimento
de não ter
feito o possível.
Impossível esquecer
que sou pó
e que a terra
de onde saí
me chama.
A clausura
alimenta o altar
com o óleo
das lágrimas
que correm tépidas:
rios intermitentes.
As paredes
são limites
que inibem
a esperança.
A luz das frestas
não diz nada.
Só ouço gritos:
mulheres, crianças,
arrancadas das mães.
São tantos
que não escuto
os que são meus.
A vida
não é capaz
de calar a dor.
- Derrubem o mosteiro
para ver se
ao menos
castigado
pelo tempo
eu fuja
e fugindo perceba
o que já não
posso ver.