Noite afora
Singrando as águas do velho rio Uruguai
meu barco vai, sem destino p'ra chegar;
passa remansos e cachoeiras – tanto faz –
buscando a paz da noite para me abrigar.
Ai, que destino de andar sem direção!
Com o coração de rédeas soltas, sem guarida
e sem limites p'ra amplitude de alguns sonhos
- tão enfadonhos nesta instância da vida.
Segue o meu barco, entre estrelas refletidas
nas indormidas madrugadas deste rio;
dando a impressão de um vôo, sem ter asas,
que acende brasas no meu peito tão vazio...
Queria tanto ter a paz dessas barrancas
p'ra alma branca sossegar sua aflição
- que, há de muito, me traz triste e absorto -
em algum porto que atracasse o coração.
E, noite afora, vou remoendo desalentos
e sentimentos, a remar sem direção;
buscando algo que me mostre uma saída
e que esta Vida não é um barco de ilusão!