As Cores

A nossa casa tinha várias cores.
A sala de visitas tinha paredes brancas.
No nosso quarto, no primeiro ano, eram vermelhas.
A cozinha, era na cor azul.

O banheiro social possuia azulejos decorados,
Predominando a cor bege.
No banheiro do casal, as cores eram iguais as do quarto.

O quarto do filho, era na cor azul claro,
Com o teto na cor branca,
Ornamentado com estrelas, sóis e luas cintilantes,
Que até no escuro, brilhavam.

O terraço, era todo colorido.
Uma parede branca, outra verde,
Outra vermelha, alternando paz, segurança e paixão.

As portas, da entrada e dos fundos,
Eram na cor branca.
Somente a do quarto do casal era vermelha,
E um grande coração desenhado, com nossas iniciais.

Os jardins eram bem cuidados.
Possuiam rosas e flores de todas as cores,
E um banquinho de madeira, para namorarmos.


O tempo, as vezes, mostra-se cruel.
Quando saí pela porta dos fundos,
Pude ver, com os olhos marejados,
Que muita coisa havia mudado.


A sala de visitas, já não vinham mais visitas.
As paredes da cozinha, ficaram engorduradas.
O vermelho do quarto, ficou rosa.
No coração desenhado, apagou-se as nossas iniciais.

No quarto do filho,
O céu ornamentado com estrelas,
Já não dava mais a sensação de liberdade.

O jardim foi tomado por ervas daninhas,
Ninguém mais cuidava dele.
As flores foram murchando e morrendo,
E até o banquinho, a madeira apodreceu.

Lembro que a última coisa que percebi,
Quando saí pela porta dos fundos,
Era que esta não era mais branca.

O amor quando acaba,
Retira de nós a sensação de segurança (nossa casa).
Empalidece a nossa vida (as cores vão perdendo o brilho).
Descolore os nossos sentimentos (os dias ficam cinzas).

Mas o pior de tudo,
É que no quarto com estrelas, sóis e luas, cintilantes,
Passa a ser habitado por um ser dividido, 
Mas que no seu âmago, deseja novamente a vida colorida que perdeu...

EMERSON DANDA
Enviado por EMERSON DANDA em 03/11/2011
Reeditado em 07/11/2011
Código do texto: T3314391
Classificação de conteúdo: seguro