Tudo é Vão

Em Vão, eu procuro minha ausência;

Em Vão meus pés caminham quando já não há mais estradas nenhumas;

Em Vão eu evito e fujo da Dor, se eu próprio sou as chagas incuráveis do universo;

Em Vão eu persisto em lutar, pois os campos de batalhas sempre continuarão a existir;

Em Vão eu canto minhas angústias para um mundo cego, surdo e aleijado;

Em Vão eu desenterro novas palavras de mim,

se as mesmas nem penetram a epiderme das essências das coisas, do mundo, e de minhas emoções;

Em Vão eu me crucifico por vós que tanto amo,

se vós não sois dignos nem de vossa dor e nem das pérolas de meu amor.

O Mundo perdeu, a Vida perdeu, a Vitória perdeu, a Perdição também perdeu.

Perdeu o quê? Perderam o que são, o que foram, o que jamais eram.

Em Vão meu coração bate mais intensamente do que mil trovões bradados numa só voz,

Se o mundo e as pessoas só irão querer ouvi-lo quando não pulsar mais nenhuma sonoridade;

Em Vão escrevo poemas a uma sociedade doutorada no embrutecimento e analfabetismo mental;

Em Vão meus olhos tateiam o significado da vida, se a Vida se evadiu deste mundo há milênios;

Em vão procurei o Motivo e os Fins de tudo o que se diz haver motivos e fins;

Em Vão eu navego nos dilúvios de minha Imaginação,

Pois todos os arco-íris de todos os céus foram desbotados e queimados;

Em Vão eu crio teorias e conceitos sobre qualquer coisa,

Pois todas as coisas jamais precisaram respirar a combustão fóssil de nossas teorias;

Os Campos de centeio estão em chamas; as palavras e as pessoas são as fumaças

que as cinzas da Vida permanecem evaporando no céu seus túmulos crepusculares.

Em Vão minhas mãos te olham e te contemplam,

Pois debaixo de tua beleza só há a efemeridade de teu pó, de teus ossos,

Que minhas mãos rabiscam em teu ser uma beleza irreal,

Buscando eternizar em minhas lembranças essa efemeridade de beijar somente teu corpo verbal.

Em Vão busquei refúgios, os inúmeros barcos da fé, felicidades, e amores,

pois ambos sempre são regidos pelos punhais embriagados de nossas Esperanças cadavéricas;

Em Vão eu sigo repetindo essa expressão em vão, a fim de descrever, analisar, refletir sobre tudo,

Porque Tudo o que se pensa e que se defende como não sendo vão é Vão, e sempre foi e será Vão.

O sono acordou de si?

As tuas pernas acordaram?

As bandeiras e os fuzis permanecem com os olhos abertos?

Os beijos te esperam na calada da Noite que nunca dorme?

Em Vão escrevi este microscópico esterco literário e filosófico de que Tudo é Vão.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 08/11/2011
Reeditado em 08/11/2011
Código do texto: T3323899
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