Sopa de papelão

Estão tentando sufocar a minha poesia

E as nuvens são os meus olhos de chufa

A minha pele tem a cor da raiz de um povo

Mas é a mesma raiz da planta que esqueceu seu fruto;

E o canto que ouço naquele canto

São as crianças plantando papelão

No prato há sobra da doença enganosa

No recipiente, o sal que o dia oferece

É o mesmo sal que faz salobra a minha vida;

Na penúria esquecida

Rejeito a flor!

Senhor! Oh Senhor;

A fome fala dor!

E a África chora enquanto acendo um cigarro

A minha palavra é a tosse

Interpreto mal, pois meus pensamentos são cinza;

“E orando não useis de vãs repetições, como os gentios,”

“Que pensam que por muito falarem serão ouvidos”

Logo deixarei o cigarro tomar o fim

E se esquecer de mim, como a luz a escuridão!

Pois tenho fome, sou um continente

Da cor da gente, do tamanho de um caixão

Da palavra sem letra

Janto almoço e janto papelão!

Senhor! Oh Senhor.

A fome fala: África e dor!

Uilson Silva
Enviado por Uilson Silva em 14/11/2011
Reeditado em 27/04/2023
Código do texto: T3334898
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