VELHOS JORNAIS

Lembro bem, eram os tão velhos jornais
que vivia catando por todo o arrebol,
que eram para mim, e meus dois animais
que formavam nosso tão rústico lençol.

Pedi por esmola, sementes de flores
deram me cor de rosa, vermelha, lilás,
samiei no túmulo dos meus dois amores
são lembranças, que ficarão para trás.

Lembro, na divisão de uma marmitex
de seus rabinhos, felizes, abanando,
adeus, amigo, meu cachorrinho Rex,
sua companheira Lica, estou enterrando.

Em minha pobreza, dei tanto carinho,
farão parte de meu triste e negro passado,
por onde andar,verei voces no caminho,
casal de cães,sempre, te verei a meu lado.

Fui amigo, tudo dividi, era como um filho,
juntos, em dias de sol ou em temporais,
sou mendigo, sou um solitário andarilho,
dei toda proteção,usando os velhos jornais.

Corpos na estrada, mortos, esquatejados,
sei, ali, morreu com eles o meu coração,
culpa de motoristas,que andam embriagados,
chorei, catando pedaços, da cadela e do cão.

Agora, aumentará o peso da saudade,
que já pesa tanto  na alma do mendigo,
mais lembranças, dessa linda amizade
que não verei mais, sobre meu abrigo.

Dói deixar aqui os tão queridos animais,
enfeitarão seus túmulos, as flores do arrebol,
agora em vez de nossos velhos jornais,
serão aquecidos pelos raios do sol.

Perdi a vontade, de pelo mundo caminhar,
creio que estou no ponto final da solidão,
não consigo os meus amigos aqui deixar,
enterrei com eles parte de meu coração.

Sem  alimentar, e sufocado pela essa dor,
vou ficar aqui, será o fim do sofrimento,
junto dos cães, que me deram tanto amor,
será sepultado com eles, todo lamento.


Seremos mortos, seremos três animais,
não separaremos esses três amores,
não precisaremos dos velhos jornais,
nossos corpos serão coberto por flores. 

GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 04/12/2011
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