Auto-Indagações da Alma

Mãos distintas e sinceras que se tocam

Comandadas por um sentimento inquebrável.

A verdade pela mentira sempre trocam,

Ela nunca desconfiará de minha paixão insondável.

Lindos versos copulando com meus complexos,

Empurrando-me para uma casa escura e abandonada.

Quanto mais observo a vida, mas considero-a sem nexo,

Minha alegria por feras internas é despedaçada.

Se eu desistir, chamam-me de fraco.

Se eu tentar, acho que não vou conseguir.

Não quero caminhos nem verdades para seguir,

Quero ser o mesmo nada que acha tudo um asco.

“Como eu te quero” constantemente vagueia

Pelos corredores sombrios de meus pensamentos.

Sábado à noite, uma tristeza incendeia

A minha alma com labaredas de tormentos.

Quanto mais fujo, mais te sinto em mim

Como uma cruz pesada e cravada no meu peito aviltado.

Ainda sinto nesse manicômio o teu cheiro de jasmim,

Não decifraste o meu olhar que te quis ao meu lado.

Sentada perto de mim, um rosto mudo me olha

Com uma perplexidade e um desgosto por mim incalculáveis.

O silêncio ensurdecedor desse momento macabro molha

Com barris de indolência nossos amores inalcançáveis.

Os papéis picotados de nossos planos infalíveis

Formam uma planície de bulhas nostálgicas pela praça.

As pessoas que me avisaram e que insultei de desprezíveis

Formam uma fila quilométrica para rir de minha desgraça.

Um desespero disfarçado de palhaço

Lança confetes por sobre a mesa.

Cuidadosamente recolho os estilhaços

Que simbolizam a retaliação de minha natureza.

Não acordo e nem quero despertar,

Vivo num sonho que mesmo criei.

Pode ser ele falso, mas é melhor do que enfrentar

O exército da Realidade o qual nunca vencerei.

Olhar um beijo sincero é-me uma afronta

Contra todas as concepções que formulei.

Contudo minhas opiniões ninguém sequer conta,

Enganar, mentir e trair agora é a nova Lei.

Pulo no abismo infinito do meu ser

Esperando que os meus pés toquem na realidade.

Grito e choro ao ver as ruínas decadentes da sociedade,

Enquanto minha alma se perde no cais do entardecer.

Aquele “Não” que ouvi dilacerou sem dó

Todo o possível crescimento de minha personalidade.

Hoje guardo e escondo minha verdadeira identidade

Para que não se aproveitem e me deixem depois só.

Como dói conceber sobre o visível de outras maneiras

E sentir-se alegre com coisas que outros teriam pavor.

Parece que a felicidade só anda com quem falam e cometem asneiras,

E isso me faz desmaiar de tanta incompreensão por esse horror.

Amar alguém sem usar mentiras, nem omissões nem exageros

Limita o querer falso desses famintos por sexo;

Pois ninguém acredita, nem usa os sentimentos plenos verdadeiros,

Isso sim é ateísmo, e inconcebivelmente sem nexo.

O pó das estrelas agonizantes é atirado pelos anjos sobre a tua auréola,

O olhar de todos os seres é aprisionado pela tua formosura.

Até Deus ergue-se do seu trono para te chamar de suntuosa pérola,

Porque é impossível resistir meu amor ao teu encanto e doçura.

Berros e maldições contra o próprio destino,

Que nunca se livrou de sua camisa-de-força sempiterna.

Não passamos de fantoches na mão do Menino

Que vendeu para a Tristeza sua Alma Eterna.

Tatear pelas paredes opacas da escuridão do próprio ego

Pode levar-me a encontrar alguma brecha ressonante de luz.

Mas como poderei ver a nitidez do rela e irreal, se estou cego

Pela minha mágoa inútil e companheira que sempre me conduz?!

Gilliard Alves Rodrigues

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 04/01/2012
Reeditado em 21/05/2018
Código do texto: T3421593
Classificação de conteúdo: seguro
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