Féretro

São eles que passam

a caminho do campo santo.

Cabeças baixas,

e mãos cruzadas às costas,

algumas crispadas,

outras nervosas.

Vestes trajes escuros,

alguns levam flores,

outros, choram, consternados

deixando subirem aos céus,

os lamentos e soluços.

São eles que passam!

Em cada rosto,

está escrita uma tristeza,

um pesar,

ou mesmo uma indiferença,

ou simples curiosodade.

São eles que tocam

os sinos da capela

que soam sons tão tristes.

São eles que murmuram

soturnas orações,

que soam tão tristes,

monótonos cantochões,

lúgubres ladainhas.

A história é curta,

a mesma de sempre.

a mesma de todos.

Nascer, crescer, viver

e depois partir,

caminhar sem sentir os passos

e ver fechar-se atrás de si

a última das portas.

Olhe. São eles que voltam,

as mesmas cabeças baixas,

as mesmas mãos cruzadas,

Vestem os mesmos trajes negros,

mas já não trazem flores.

E não choram mais,

e não soluçam mais,

e não lamentam mais.

Ouçam! São os sinos que tocam,

são os sinos da capela,

que tocam a despedida.

São eles que voltam!

Em cada coração,

sob os trajes negros,

já há menos tristeza,

há menos pesar,

existe a mesma indiferença,

já há pouca curiosidade.

Foram eles que acompanharam

aquele que já partiu.

Procuraram deixar no túmulo,

um pouco do medo,

de um dia também partir,

de também caminhar,

sem sentir os passos,

de ver fecharem-se atrás de si

tão pesadas portas.

Olha! São eles que voltam!

São eles que voltam

e o lento regresso

parece menos triste,

parece que no cemitério

ficou um pouco do medo

de um dia morrer também

ser acompanhado por eles,

eles que passam

a caminho do campo santo.

Cabeças baixas,

e mãos cruzadas às costas,

algumas crispadas,

outras nervosas.

LuizMorais
Enviado por LuizMorais em 02/02/2012
Código do texto: T3475768
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