Quereres

 

Hoje eu queria renascer naquele sonho que morreu naquele inverno.

Refazer os passos quietos dessa busca tão alucinante

Antes eu queria ser apenas deserto e ser só

Hoje eu quero tudo ao meu redor

 

O pôr-do-sol na margarida e as rimas que fizeste aos meus cabelos

e cada riso que ficou cativo da tristeza.

Queria a delicadeza da mão de minha mão partindo o pão posto à mesa

e a força docemente bruta dos olhos paternos

 

Eu queria o desdobrar dos lençóis perfumados de flores sobre mim

nas noites de primavera e novamente sentir-me apenas botão que floresce.

 

Eu queria tanto mais que foi perdido e que me prendeu num tempo outro, de felicidade e de quimeras. Queria o peito aveludado do meu primeiro amor e a firmeza briosa desse amor que tenho que é último e que é eterno. E o revirar no ventre desses amores, que carrego inda dentro dos meus sonhos, neste imaginário ventre que concebo em versos.

 

E o branco dos cabelos em trança de minha vó Josefa, como flocos brancos de tão pura neve, para fazer bonecos e anjos de asas abertas e ser criança e derramar-se sem pranto em amenas faces sem a rigidez da consciência de que a vida passa...

 

Eu queria a razão perdida, e a loucura dos beijos que desarvoram nossos sentimentos, como barco ao mar, e o perdão que emenda todas as mãos baldias nesse caminhar

Queria só que minh'alma pobre, antes de ir-se tivesse a sorte de o amor absoluto encontrar.

Cristhina Rangel. 

Cristhina Rangel
Enviado por Cristhina Rangel em 18/02/2012
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