Dor e somente dor...

Ratazana profana, surge do oráculo de minha existência, oculta na escuridão.

Emergida do escarro, e do pus fétido minha alma grita ao ver minha carne inflamada perecer.

No anoitecer de meus dias frios, vejo a solidão me consumindo no lodo de uma vida sanguinolenta.

Pertubado feito um cordeiro com medo dos lobos famintos, me vejo consumir: minha carne dominada por vermes parasitas e minha cabeça perdida no limiar de um mundo sujo e injusto.

Grito pardo e solto na noite também parda: sem cor e sem vida, pois que o papel vale mais que uma vida.

Mergulho entre sangue, pus e lágrimas e sinto: sim, eu sinto a dor de minhas feridas.

Esmagado tom de minha tristeza: me vejo no vazio de minha triste loucura.

Caminho entre vácuos, feito zumbi bem morto, e nada vivo senão a obscuridade de minha intragável demência.

Torto, raso, múrmurio, enlace nas mãos do Diabo chamado homem.

Minha vida nada vale para a sociedade imunda emissária do Capetinha: eu estou fora da linha e o papel compra tudo até minha vida, mas não, não compra minha alma.

Grande coisa porém, o que hei de fazer com uma alma tristemente desolada e sem vida?

Ando feito nada, passeando na enseada de minha tristeza: sangro, rezo e grito, para sempre morrendo a cada dia de minha existência.

Saboreo, então lenta e delicadamente minhas dolorosas feridas na minha carne seca.

Sim, saboreo a cada dia, lenta e delicadamente, as minhas dolorosas feridas na carne, sim, na minha carne seca.

Marcos Welber
Enviado por Marcos Welber em 24/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3518077
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