Tão amável avó Maria...

Meu nome é Maria como tantas outras Marias

Antes só alegria; hoje só melancolia

Viúva muito cedo com minha filha eu sempre morei

Então ela se casou e com ela na luta eu continuei

Lembro-me do nascimento do meu primeiro netinho

Emocionei-me muito quando coloquei

em meus braços aquele anjinho

Todo mundo sabe que pelos netos

as avós sentem o dobro de carinho

Eu só tive uma filha, feliz eu fiquei de ver nascer dela

aquele frágil homenzinho

Ele chorava de noite e logo diziam:

- Chamem a vovó Maria!

Eu chegava com meu amor de avó

e transformava o choro em calmaria

Enquanto a minha filha trabalhava,

todos os dias do meu neto eu cuidava

Fui a muitos passeios com eles

e sempre nos meus braços ele estava

Então o menino cresceu

e da vovó Maria ele já não mais precisava

Comecei a sentir uma estranha mudança,

antes eu era importante naquele lar

Já não me levavam aos passeios,

a razão era porque andava muito devagar

Na sala eu me sentia isolada,

ninguém do meu lado queria sentar

Até nas conversas não tinham paciência de ouvir

o que eu tinha para falar

Diziam: -Deixe a avô Maria maluca para lá,

já está caduca ou vai caducar!

Eles não entendiam que o que eu mais queria

era um pouco de atenção

Eu queria dar para eles o meu amor de avó

e de mãe que eu carregava no fundo meu coração!

Eu nunca deixei eles verem as minhas lágrimas,

eles nunca me viram chorar

Ingratidão de neto e de filha é muito triste,

não queiram imaginar

Num dia bem cedinho pegaram a minhas coisas

e levaram para um quartinho

Quarto que se guardam tranqueiras,

meu coração ficou triste e apertadinho

Não me deram se quer uma única explicação,

para eles a minha solidão seria a solução!

Foi á noite mais triste da minha vida,

doeu muito àquela separação!

Não tinha acesso mais a cozinha

e nem podia ir á sala ver televisão

Estava no quarto das tranqueiras,

das coisas velhas curtindo a minha aflição

Um dia criei coragem e do meu sofrer

para minha filha eu fui falar

Então no meu rosto ela me deu um tapa,

vi naquela hora o meu mundo desabar

Depois deste dia era normal a minha filha me agredir

Muitas vezes sentindo muito medo eu pensei até em fugir

Mas seria loucura eu não tinha para onde ir!

O meu quarto sempre foi solitário e úmido, tive então como

resultado um reumatismo que passou a me consumir

Era só o começo do pesadelo que estava por vir

A doença me jogou numa cama,

então contrataram uma mulher para cuidar da avó Maria!

Agora sim ficou muito pior,

de dia eu apanho da mulher e a noite da minha filha!

Estou num desespero, esperando a morte me levar

Mataram em mim todos os sonhos

até o direito de existir e amar!

Sou tranqueira jogada num canto,

a minha vida hoje é tão triste e vazia

Mais durmo do que acordo,

eu me entreguei a este ambiente de melancolia...

Às vezes na minha insanidade

surgem imagens antigas,

me fazendo lembrar

que um dia

eu fui para eles...

à tão amável avó Maria

Janete Sales Dany
Enviado por Janete Sales Dany em 09/06/2012
Código do texto: T3713798
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