ALMA FERIDA
Há uma ferida que dói como o elefante que se deita
No tapete de areia para esperar o sopro manso da morte,
Mas que observa de longe os passos dos outros elefantes,
E sente um desejo enorme de voltar a andar como antes!
Eu vejo o mundo nas belas artes da primavera:
Que flores! Que cores! Que odores!
Meus olhos contemplam sua generosidade sincera,
Mas meu inverno pessoal me causa íntimos tremores!
Há uma ferida que dói como a andorinha desgarrada
Que voa solitária na atmosfera quente do verão,
Ou o cão abandonado que vagueia na escura madrugada
Procurando seu antigo dono na rua deserta da solidão!
Não sei o que minha tristeza perpétua espreita
Na palidez da lua cheia que o céu apagado enfeita,
Sei que o fio da sua navalha sinistra me torna mais forte
Cada vez que estanco na alma a sangria do seu frio corte!