O Monstro

Depois da festa, quando a noite veio

Cobrindo os aposentos de penumbra,

O monstro a rir-me, como quem vislumbra

Aproximou-se trêmulo de anseio.

“Não sabias, amigo, que eu viria,

Porquanto esta presença faz-te espanto?”

Ouvia eu, apavorado a um canto

Enquanto a criatura me inquiria.

E sem dizer mais nada, simplesmente,

A salivar, a horrenda criatura

De um golpe, para minha desventura,

Partiu-me os intestinos friamente..

E enquanto eu, já pálido e tremente

Em preces e lamentos me entregava

O monstro sem escrúpulos ficava

A devorar-me as tripas ferozmente.

Depois, por uma breve comoção,

Falou-me em meio às lágrimas malfeitas:

“Não venho deste inferno que rejeitas,

Mas venho do teu próprio coração!”

Henrique de Castro Silva Junior
Enviado por Henrique de Castro Silva Junior em 17/08/2012
Código do texto: T3835327
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