OMISSÃO

Parece-me que jamais estive tão triste...

Tão assombrosa esta cena!

O garoto moreno, magro,

apenas um menino.

Deitado no frio da calçada,

derrubado em sono profundo,

do qual não consigo trazê-lo.

Toco-lhe os cabelos.

Mas ele não vem.

Um torpor causado

talvez pelo cheiro da cola,

talvez pelo amargo destino.

Não suporto mais ver isto!

Não sei o que fazer.

Os carros luxuosos passam.

As pessoas desviam-se dele,

sem sequer vê-lo.

É tão banal assim uma criança,

caída no chão úmido do inverno?

Quero chorar, quero despertá-lo,

quero levá-lo comigo.

E nada faço.

Vou embora.

As lágrimas

— de dor, de impotência, de revolta, de omissão —

seguem comigo.

O meu próximo,

o meu mais próximo neste momento,

a quem devo amar como a mim mesma...

E não consigo acordá-lo.

Mas... acordar para quê?!

LuciaArmenioLeal
Enviado por LuciaArmenioLeal em 14/09/2012
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