DUAS TRISTEZAS

Meus olhos insones são duas tristezas

Perdidas nas trevas desta madrugada,

Andantes cansados ante as incertezas,

Temendo caminhos que os levem a nada...

São astros morrentes, par de luzes frias,

Dois abismos gêmeos que a noite engoliu,

Janelas fechadas pro esplendor dos dias

Portando lembranças de alguém que partiu...

Meus olhos... Coriscos ligeiros de outrora,

Espelhos de um sol que nunca se apagava,

Nunca mais brilharam depois de ir embora

A luz de outros olhos que neles morava...

E desde que a luz se foi pra não voltar,

São dois pirilampos já sem claridade,

São anjos caídos que não podem voar,

São olhos feridos de breu e saudade...

São como as gaiolas de aves libertas

Que alçaram vôo pra não voltar mais,

Barcos naufragados em vagas incertas,

Túmulos da dor de não volver ao cais!