TERAPIA

Querido Luís Fernando... Tenho seis balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor.
São seis balas, seis apenas
Para acalmar minha dor pequena.
A primeira eu sei como usar (sim, eu sei...),
E sei muito bem a quem presentear...
Aos homens sem palavras, tão eloquentes,
Que passam a vida parasitando tanta gente,
Aos que pensam que o importante é o metal,
Envenenando tanto e causando tanto mal.
Um tiro cego, porém decidido.
Um tiro, eu sei, fará sentido.
 
(BANG!)
 
Querido Luís Fernando... Tenho cinco balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor.
São cinco balas, cinco apenas.
A cortina abre e logo se encena.
Destilo meu veneno já sem muita pressa.
Apresento minha raiva, e a segunda se endereça
Ao poder sujo de cartas marcadas
Que envolve os humildes, humilhando os menores,
Triturando, matando, favorecendo os piores!
Um tiro seco, já faço minha mira,
Um tiro forte que carrega TODA A MINHA IRAAAAA!!!
 
(BANG!)
 
Querido Luís Fernando... Seu filho duma puta!
Tenho quatro balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor.
São quatro balas, quatro apenas.
A noite cai e em breve será plena.
Da minha janela vejo um mundo de aparências,
Aperto o gatilho e a terceira grita com demência!
(BANG!)
Pessoas burras esvaziam seus bolsos, e o que mais?
Queimam tantos livros enquanto compram seus cristais,
Falando tanto, arrotando ignorância,
Esbanjando suas posses, esbanjando petulância.
Um tiro, sim, não há mais tempo a perder.
São tão superficiais, ninguém vai perceber.
 
Querido Luís Fernando... Tenho três balas em meu tambor
E UMA DELAS É TUA, meu amor.
São três balas, três apenas.
A morte vem e de longe lhes acena.
A agulha trabalha bem e ainda não descansa,
A quarta vem feroz e nada a amansa.
(BANG!)
Charlatões aos montes explorando gente honesta,
Tirando-lhes o dinheiro, e o que nada mais lhes resta.
Mentindo e assaltando em nome de um deus feroz,
Prometendo o céu, a terra ou um inferno atroz.
Um tiro brusco, que cause confusão.
Um tiro longo, a libertação...............
 
Luís Fernando babaca... Tenho duas balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor.
São duas balas, duas apenas.
Será mesmo a espada mais frágil que a pena?
Tento relaxar, ligo minha TV...
 
...
 
...
 
...
 
Mas o que lá está é difícil de esquecer!!!!!
Lavagem cerebral, é como chamo tudo isso.
Lixo cultural, se é que posso chamar lixo!
Superficialidade barata, alienação, ignorância.
ESTOURA-SE A CÁPSULA! (BANG!)
A quinta se liberta!
Uma platéia contratada assiste boquiaberta...
 
Luís Fernando... A última ficou para cumprir minha promessa.
(...)
Minha jura vem vindo, não é preciso pressa.
Será uma dádiva, um presente sublime.
Uma prova de amor, e não de crime.
(...)
Te acordarei ao amanhecer, te trarei o jornal.
Verás que tudo continua igual...
(...)
Alisarei teus cabelos, palavras de amor.
Nos meus versos profanos, meus ais de dor.
Chegarei ao teu prédio, subirei as escadas.
E darei, enfim, minha última cartada...
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Neste mundo louco, querido Luís, para curar minha dor,
Não fui ao analista. Esvaziei a porra do meu tambor.
 
(BANG!)
 
De sua ex-amada (e agora morta): Inocência.