Baixo mar
Queria a sorte de um mau marinheiro…
que não soubesse nunca ler mapa,
sentir vento, corrente e a nuvem;
que não pesasse a rede dum pesqueiro!
Queria ter a sorte deste homem
manco e cegueta, com barco em penhor,
que, em negociando a baixo lucro sua alma,
não a quis nem o Capeta!
Oh! homem sortudo!
que inveja não poder afundar-me!
Afundar-me ao mar até o fundo!
sem esperança que me boiasse…
Ah! sem medo que a água, enorme,
fizesse-me em bichos até às pedras,
pois que a terra já levara-me tudo…
até a maldita sorte deste homem!