Baixo mar

Queria a sorte de um mau marinheiro…

que não soubesse nunca ler mapa,

sentir vento, corrente e a nuvem;

que não pesasse a rede dum pesqueiro!

Queria ter a sorte deste homem

manco e cegueta, com barco em penhor,

que, em negociando a baixo lucro sua alma,

não a quis nem o Capeta!

Oh! homem sortudo!

que inveja não poder afundar-me!

Afundar-me ao mar até o fundo!

sem esperança que me boiasse…

Ah! sem medo que a água, enorme,

fizesse-me em bichos até às pedras,

pois que a terra já levara-me tudo…

até a maldita sorte deste homem!

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 14/11/2012
Reeditado em 14/11/2012
Código do texto: T3985191
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