RETRATO NA PAREDE

na sala, sentado na cadeira de balanço

o velho Tião despertava de sono profundo

estava cansado, maltrapilho, um pouco imundo

vivia sozinho, pouco ligava para a higiene

a solidão era sua velha companheira

desde que Anastácia, inconformada, foi embora

era sua esposa, dona de casa, bela senhora

que não aceitava os desmandos do marido

o tempo passou, vinte anos de separação

não teve notícias, um só consolo sequer

apenas um retrato na parede daquela mulher

que olha desconsolado, sem nada dizer

levantou da cadeira, olhou o retrato

tirou da parede, afagou com a mão

apertou no peito sob forte emoção

duas lágrimas desceram pelas faces

recolocou na parede, ficou a olhar

uma imagem em preto e branco sorrindo

um amor que aos poucos foi se destruindo

e hoje é somente lembrança do passado

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 26/11/2012
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