Adeus

Há todos os deuses

adeus.

Há todas as divindades pagãs

adeus.

Ao Cristo crucificado no terceiro dia ressuscitado

Amém.

As tristezas, as alegrias, as agonias

adeus.

Em mim pousa a chama

o fogo em mim derrama

é hora da partida. Da ida.

Somos apenas finitude

hormônios e dúvidas sem fim.

O mar com águas densas e subversivas me chama

águas serenas e arrogantes me levam

do rio ao mar naveguei e ao fim cheguei.

Adeus à todos os antepassados

os passos dados

as horas na fila do hospital

as horas na mesa do bar

aos minutos antes do gol, um simples

adeus.

A morte é angústia numérica

vivenciada por pobres mortais.

Enfim, chegou o fim de uma existência efêmera

o pensamento ficará retido em lágrimas.

Agora serei cinza, serei infinito.

Adeus a todas as mitologias, a cosmologia

adeus a metafísica e a subjetividade

adeus as (in)verdades.

dos mortos não voltarei

não voltaremos

aos mortos apenas

adeus.

Agora sim sou pó

o sangue já não circula

não sinto meu coração

a dor já se desfez

o choro, o pranto, as agonias humanas não vivenciarei.

Já não há mais consciência

a vida e a morte uma sentença

agora distante ouço um grito:

- Adeus.