fôlego inane
a boca sopra o mar
que não se ergue mais
nem uma pequena onda
um levantar mísero sequer
Nada
a boca...que soprava o mar
alegre e barulhento
cristas de cristais, ondas
mais altas que o sol
a boca que soprava o mar
e o mar molhava a boca
e a boca ouvia aprazida
o grito agudo da maré alta
a boca que soprava o mar
suspira trêmula, o mar não se move
tudo estacou num sono eterno
o coração parou de bater
a boca que soprava o mar
engole o choro molhado dos olhos
que enganam o sal das espumas
e o coração da boca sai feito vômito
a boca insistente, sopra o mar
que não se move mais
os peixes morreram, as pedras também
a boca bebe a água dos olhos que nunca viu.