localidade
entrei num buraco fundo
encontrei minha família
e não tenho direito à nada.
nada que sinto, nada
me pode ser se não um nada;
um nada enorme, tão grande como o nada.
o buraco é tão fundo que eu empino uma pipa
e você a vê, suja, sofrida, quase sem voo
e simplesmente diz que seus olhos cansam.
a pipa cai na minha cabeça com força
quebra as varetas e aí você berra alto,
que a culpa é minha, que não sei empinar pipa;
que encho a armação de sentimentos pesados,
rabiola monocromática, e ela cai e a culpa é minha.
Aqui em baixo ninguém me ouve chorar, nem meus pais
que cavucaram a terra e se foram para o leito.