Deixando as coisas irem...

Passeio pela vida como um passageiro em um ônibus,

com a cabeça encostada na janela vejo paisagens,

vejo sábados e domingos transitórios em áridos cenários,

enquanto minha mente diletante vaga adiante no voo de uma águia,

suspiro à cada lembrança que me faz sonhar de olhos abertos,

só o meu corpo está ali preso em um concreto armado,

só o meu físico está ali deixando aparente um rosto desolado,

enquanto minha alma se esvai pelos ares como fuligem na ventania,

apenas deixando as coisas irem...

.

Encaro meus fantasmas e vejo meu reflexo em todos eles,

sou todos e nenhum, sou o vazio e a incompletude do que desejo,

pairando em um deserto de sensações que digladiam na minha arena,

enquanto meus pensamentos turvam-se ao sol da meia-noite,

permaneço buscando respostas para conflitos jamais resolvidos,

só minhas tristezas me acompanham nessa longa jornada,

só minhas lágrimas ressecadas teimam em acenar sentidos,

enquanto meu espírito caminha vacilante na beira de um abismo,

apenas deixando as coisas irem...