MEU TEMPO DE CARANGUEJO

Em cada depressão eu cresço um pouco

Mas fico frágil como um caranguejo

Que perde a casca e fica um tempo exposto

Eu fico assim também: choro e gaguejo

Em cada depressão pareço louco

Vou pro meu buraco de caranguejo

Deixo que todos pensem que estou morto

Bebo vinho como pedaços de queijo

Eu cada depressão eu fico mouco

Não ouço nada: sou um caranguejo

Na minha toca faço versos toscos

E Mozart me consola com arpejos

Em cada depressão eu berro e, rouco

Eu me enterro igual a um caranguejo

Me tranco no meu próprio calabouço

E lá dentro nada ouço e nada vejo

Em cada depressão me dou um soco

E acordo do sonho de caranguejo

Pois, de repente, surge um tempo novo

Saio de casa, rio, danço e festejo