Se me permites

Quanto tempo faz, já não lembramos,

Do primeiro diálogo intenso aqui por dentro,

Nem eram cacos, muito menos numerosos.

Ruidoso, mas ordenado pensamento.

Acho-me agora o perfume mais estranho

Olor penoso, união de essências alheias

Mas abaixo de tantas camadas de outrem

Quem sabe um pouco de mim me permeia.

É sempre um diálogo intenso aqui dentro!

É o diabo mesa-redonda acalorada!

Julgam a todos, as cosmovisões insanas,

Desfaz-se e sobra a mente tresloucada!

Saudades, saudades, saudades.

Mentiras doces de um amargo passado

Há quem diz que outrora foi diferente,

Mas o doce outrora também era amargurado!

No futuro o sal de hoje será doce:

Era belo, meu olho é que não via!

Os sentimentos são apenas a clausura

Da lágrima que banha o rosto que sorria.

...Era natal e a alma de um bom dezembro

Cristianiza o bom ateu e o bom pagão

Risos doces o tal Noel contemplava

E cá pulsava outro suposto alegre coração,

Mas amanheceu e dispersos nós dois fomos

Pela luz pesadelos e sonhos dissipados.

Fiz-me em cinzas no sempre após o carnaval

Por saudade do meu natalino pecado!