Adeus

Estou elétrico, os berços choram

Luzetas piscam com a noite nebulosa!

É o fim... O Apocalipse

A imaginação que não existe

Mas estou elétrico.

Corro como moço assombrado

Na escuridão da casa velha

Corro fugindo do medo

Que me apertou e me deixo de joelhos.

Viva a Vida! O moço grita!

Ais! Meus ouvidos doem

Gemendo no frio da noite

Como porradas de açoite!

Ainda sim! O pássaro canta

No berço que se balança

Doida minha noite tonta

No ar vou de carona.

Meu Deus! Devo a ti clamar!

E ajoelhado ficar

Implorando seu perdão!

Nessa longa escuridão?!

Que a noite acabe! E tudo passe!

Que minha dor congele com as folhas

E eu possa ser livre a cantar

Com o pássaro que não quer se calar!

Ais! Ainda meus ouvidos doem

Vejo loucos correndo... Roem

Na vaga rua escura da vida

Vou ficar parado de agonia!

Não! A mente não quer se acalmar

E louco, louco também vou ficar

Esperando o mundo acabar

E o pássaro parar de balançar...

No fio, no berço, na janela, no ar!

Ele pode estar em qualquer lugar!

Eu já estou tremendo

E um pouco sonolento

Acho que já estou para dormir

Não vou conseguir ver o fim vir

Porque é aqui que irei de partir

Na depressão da vaga escuridão

Meu corpo ainda se mexe no colchão

O vento arromba a janela

Minha porta está aberta

O frio chama nos meus ouvidos

Todos os pássaros estão sorrindo

Eu já devo estar partindo...

Mas espere! Espere só um pouco

Tenho que despedir-me da família

Não posso ir sem dar satisfação

Tenho que pedir perdão a tantos corações

A tantas e tantas paixões abandonadas

Esperando por mim nestas praças

Tenho que enxugar algumas lágrimas

Algumas marcas de magoa!

Ah! Como a noite é sombria

Nem me deu tempo para encontrar alegria

Vou morrer assim nesta casa vazia

Com saudades da minha família!

Não precisam chorar

Quando souberem da noticia...

Não quero aprofundar mais a ferida

Deixe-me aqui sozinho

Vou procurar meu novo caminho...

Eu queria poder trazer alegria

Mas eu só soube destruir vidas

Não chorem por mim! Não precisa!

Adeus! Adeus...

Se ainda alguém acredita

Que eu sempre admirei a vida!