Eu O Poeta Suicida
Os papéis tem sido a marreta
para quebrar esse concreto.
Tem sido gelo, inverno
e o pouco fogo produzido
que nem o primeiro lume se ateia
nem tão pouco incendeia.
Nem servirá esta pequena chama
para aquecer-me do frio
porque desde que esses papéis taciturnos
de todo emudeceu e o silêncio
que aqui imperou, olho expressivamente
para o espelho - indago,
estribucho esses papéis -
que não querem nada me falar
e que este silêncio tende a me atormentar.
Os papéis tem sido o lugar
onde transponho minha imaginação
para resvalar por ele toda a tristeza
que escorre pela minha alma.
Tem sido cada palavra dessa
- o tiro suicida - .
A arma que eu me mato, a mão vil que dispara
Sente o pulsar da última batida- a última palavra-.
Que proferes este tiro a quem mata-se
a quem morto vivia.
Tem sido essas palavras o esvaziar da minha alma
- a alma perdida-
-a perfídia da vida-
-esta alma sofrida-
...
o que vale a vida se esta está perdida?
...
que nos desvãos da vida O infeliz
nunca soubera se quer o que era o Amor
e por isso é que pisa nas suas próprias feridas
Sangra com um punhal contra seu peito
e sente que nele há muitos espinhos encravados
Muitos cravos que espinham a flor
Que brota, onde as pedras a sufocam
e antes que do pêndulo a flor se solte
Vem a ave de rapina que a arranca
da sua raiz de um salto.