Soneto ao "Demônio do meio-dia" (*).

"Não temerás os terrores da noite,

nem seta que voe de dia,

nem peste que anda na escuridão,

nem mortandade que assole ao meio-dia".

-Salmos 91:5 e 6.

Estou solitário enquanto escrevo

Cada palavra neste insípido papel

Deveria ser um copo repleto do fel

Deste meu sofrer e mísero desassossego:

Sinto ardor sufocante no peito e turvos pensamentos.

Despedaça-se em lágrimas as forças do espírito

Deixando-me irritantemente mais aflito

Por que ninguém vem socorrer-me nestes momentos!

Se encontrasse auto-definição numa palavra:

Eu seria das mínimas a mais mínima larva

D'um pútrido corpo exposto em cova rasa.

Cansado da vida caio com o Sol à cada dia

Para ter em claro longa noite de agonia

Sem sono, sonhos ou esperança d'alegria.

(*)Titulo de um livro sobre depressão, de Andrew Solomon.

Canindé, CE. 29 de Agosto de 2005.