Correnteza

O rio corre, indiferente

Ao corpo do homem ferido

Encostado em uma árvore próxima

Dando seus últimos suspiros

Enquanto pensa, distante

Em dores antigas

Amores passados

Perdidos na areia de praias

Cujas ondas há muito apagaram.

Conversas sobre a vida

Sobre sofrimentos tolos e vãos

Sobre ilusões de felicidade

Sobre decisões inevitáveis

Embora desnecessárias.

Paranoias, exageros

Ansiedades, desejos.

Sorrisos jogados ao vento

Levados em direção a sóis que se punham.

E o homem lamenta

Ali, no presente

No fim da vida que escolhera

Seu único arrependimento.

Fecha os olhos uma última vez

E concentra toda a energia que lhe resta

Na lembrança de sua amada

A causa de seu ferimento

E de sua morte.

O rio ainda corre

Tristezas não o afetam

O corpo apenas permanece em silêncio

Onde silenciosamente passará a eternidade

À sombra da mesma árvore

Até se tornar ele mesmo

Uma parte dela.