O caos

Eu vejo o caos na esquina

Me espiando pelas arestas da cortina

Eu vejo o caos na cama

E nos lençóis bagunçados da noite anterior

Eu sinto o cheiro do caos

Espalhado pela casa

Misturado com o cheiro de mofo das minhas roupas imundas

Eu vejo o caos no olhar vazio da moça

Que me olha como quem vê a própria morte

Vejo o caos nos meus tênis falante

No meu casaco rasgado

E no meu cabelo rebelde

Nas minhas contas inadimplentes

e na bagunça do meu quarto

Eu vejo o caos na chuva que molha a cidade

e inunda as ruas de tristeza

Eu vejo o caos na poça que sobrou do temporal

e que molha minhas meias e congela meus dedos

Eu vejo o caos, úmido, frio, fétido e inerte

Parado ali do outro lado da rua

Me olhando por entre a cortina

Dia e noite, com um sorriso estridente

Prestes a invadir meu corpo e dilacerar minha alma

Eu então espero esse dia chegar

E sorrio para ele toda manhã

quando atravesso a rua para trabalhar

Raul Nini
Enviado por Raul Nini em 05/03/2014
Código do texto: T4716310
Classificação de conteúdo: seguro