Estafa

Os dias vão escorrendo

Assim como a vida vai

Num bueiro qualquer

Sem pertencer

Sem acontecer

As dores solidificam

Os medos também

Constroem duras e frias paredes

Concreto maciço de desencantamento

Penso nos filhos que não tive

E que nem vou ter

Satisfação egoísta

Prole abortada

Assim como muitas outras vontades

A casa cheirando a tinta fresca

o sossego de um domingo a dois

uma rotina agradável e reconfortante

Ah Deus, por que, se tu existes,

Deste aos homens a escolha

Sem conceder-lhes independência?

Anseios juvenis me deixem

Minha alma velha

Cansada de suas expectativas

Já se resignou com o possível

Um homem solitário deve contentar-se com seu fardo

Ou sua benção

Deixe a vida escorrer

Liquida antes de tudo

Para algum bueiro

Em qualquer canto

Sarjeta a baixo

Até se confundir infinitamente

Entre as águas de um rio já morto

O tempo realmente é

Muito relativo...

Eliézer Santos
Enviado por Eliézer Santos em 23/06/2014
Código do texto: T4855682
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