Estafa
Os dias vão escorrendo
Assim como a vida vai
Num bueiro qualquer
Sem pertencer
Sem acontecer
As dores solidificam
Os medos também
Constroem duras e frias paredes
Concreto maciço de desencantamento
Penso nos filhos que não tive
E que nem vou ter
Satisfação egoísta
Prole abortada
Assim como muitas outras vontades
A casa cheirando a tinta fresca
o sossego de um domingo a dois
uma rotina agradável e reconfortante
Ah Deus, por que, se tu existes,
Deste aos homens a escolha
Sem conceder-lhes independência?
Anseios juvenis me deixem
Minha alma velha
Cansada de suas expectativas
Já se resignou com o possível
Um homem solitário deve contentar-se com seu fardo
Ou sua benção
Deixe a vida escorrer
Liquida antes de tudo
Para algum bueiro
Em qualquer canto
Sarjeta a baixo
Até se confundir infinitamente
Entre as águas de um rio já morto
O tempo realmente é
Muito relativo...