Desencontro.

Em minhas entranhas

Te gerastes.

Fluidos e sangue,

Pura imperfeição

Do meu ser formaram-te.

E no dia em que nos separaram,

Aos meus olhos eras a perfeição.

E um cordão de amor me mantinha atada a ti.

Eras um pequeno ser e fostes vítima da minha imperfeição

Quantas vezes sem querer feri-te... Feridas no cerne da alma.

Querendo acertar errei tanto, e hoje meus erros cobram seu tributo.

Ganhei teu desprezo.

Não te culpo.

E te amo ainda que sejas indiferente.

Carregarás meus genes que tanto desprezas

E nada nem ninguém mudará isso nunca!

Talvez um dia quando eu não mais existir,

Olharás o rostinho do teu filho que gerastes

Na tua imperfeição, e que será vítima

Dos erros teus, cometidos ao tentares acertar.

Talvez em um instante de reflexão,

Em seus poros enxergues um pouco de mim...

Pois inegavelmente, em tudo que gerares em teu ser,

Queiras ou não, eu estarei ali.

E tu, inegavelmente me reconhecerás em teus acertos e erros

E quem sabe entendas, que fostes mais amada do que eu podia.

Que dei-te todo amor que nunca recebi e busquei do fundo do meu ser.

Se não te foi suficiente, perdão.

E como paga me dás teu desamor.

Talvez seja essa a lógica da vida,

E sendo isso que mereço, aceitarei.

Lamentando pelas dores que a vida nos impôs.

Anulas a minha maternidade e faze-nos órfãs

Eu sem a tua filiação e tu sem minha maternidade

Que deviam ser sentimentos e viverão em um frio papel

Que impedirá que alguém te indague: não tivestes mãe?

Essa morte antecipada de mim, me faz pedir-te:

Guarda-me em uma urna digna

E espalha minha cinza em algum lugar

Onde pássaros voem e cantem.

Para que eu, sendo lembrança,

Seja um pensamento que retorna

Em algum momento teu...

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 11/09/2014
Código do texto: T4958090
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