ANJO CAÍDO

 
Carente, órfão do amor,
 sem carinho, mendigo de vida,
pobre farrapo humano.
Desgarrou-se do desfeito ninho,
mutilou os sonhos na agonia da dor.
Sem rumo, adentrou na rota do engano.
Esquecido, alma em vícios entorpecida,
pensamentos confusos, desconexos,
palavras soltas, incoerentes...
No espelho não se aceita, já repudia
seu próprio reflexo,
vê-se doente, diferente.
Ensandecido, viaja andarilho
 em mundos inexistentes,
apega-se em miragens irreais
perdido, só e sem paz...
No escombro do seu mundo
julga-se fraco e impotente,
ser indigente e imundo.
Sempre diz "nunca mais"!
Já esteve encarcerado,
no auge da crise, internado...
Porém não resiste
e "nunca mais", não existe!...
Anjo caído aos pés das drogas,
asas acorrentadas, atadas
pelo demônio do submundo,
entrega-se num caminho sem volta
tornando-se pequeno, fraco e descrente.
Alucinado, precisando sair do inferno,
tenta outra vez achar o norte,
mas em cada esquina escura
existe sempre um "amigo fraterno",
que lhe ofereça o suporte.
Rendido, entrega-se à sina,
não vislumbra mais a saída.
Desiste...
Ontem achou que era escravo,
hoje guerrilheiro sente-se...
Submete-se,
há sempre um "que o apresente".
Despede-se da essência da vida,
ser abandonado, corpo doente,
entrega-se...
Despe o brilho do olhar, pede a morte,
vagueia qual barco à deriva,
despede-se da sorte.
Decepou fantasias e ilusões,
guardou-as em seus medos.
Sucumbido pelas trevas,
não mais vai à  luta,
se entrega...
Em degredo se enterra, distante da luz,
nas garras das alucinações,
vê-se  forte e imortal,
não mais percebe
que vegeta, num paraíso mortal.
Consome a erva amaldiçoada
sentindo-se abençoado.
Assim rastejam seus dias,
insólitos, abstratos...
Já nem sente mais o peso da cruz!
Anjo caído, atormentado,
vencido,
VICIADO...
 
2007
 
*******
 
*Infelizmente uma história real,
 mais uma, triste vida!
Podre mundo, onde impera  impunidade,
famílias desunidas, filhos abandonados
e em cada esquina da vida
morre um anjo,
só e viciado
em sua dose fatal.*
Anna
Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 22/05/2007
Reeditado em 11/06/2011
Código do texto: T496212