Como não sangrar o coração, em tão dolorosa despedida?

Há sete anos, exatamente sete, ganhei um presente que fez-me muitas vezes desistir de maus pensamentos quando a tristeza profunda sobrevoava minha mente.Chegaram em casa com uma Cocker fêmea, retirada da rua, logo ao primeiro olhar, direcionado àquela

alma, senti nascer um amor profundo.Não apenas nos vimos, nos enxergamos! Depois de cuidada, alimentada e certa de que não mais receberia maus tratos, adotou-me e passou a seguir-me por onde vou.

Escrevo em lágimas e já com a saudade que sentirei de ouvir o barulho das patinhas pelo chão. Sei que precisarei ficar sem ela e dói-me o âmago de mim, mas o consolo é que eu a amei da forma mais intensa que pude. Muitas percebia minha solidão, tristeza, e chegando pertinho, olhava-me e abraçava-me! Sim, abraçava-me mesmo! Colocava as patas em volta de mim, olhava-me com aqueles olhos cor de mel e permanecia ali, depois de um afago, recostada aos meus pés como um amigo que diz: estou aqui para aparar suas lágrimas.Nesse tempo, foram raras as vezes que acordei sem ela deitada aos pés da cama esperando meu despertar para começar seu dia comigo.Agora um maldito câncer estourou e estou me preparando para ficar sem minha amiga mais próxima, amiga, leal e confiável, mais que a maioria da minha espécie.

Ela ainda retém um pouco da alegria, ainda come, embora pouco, mas sinto que é o fim chegando, a maldita morte, que me deixará sem minha amada "cãoa".Eu decidi com muita dor na alma, que não a deixarei sofrer prolongadamente.Não é justo nem com ela nem comigo.Chamarei a veterinária para fazê-la dormir. Já vivi essa dor, não é fácil, antes achava cruel, mas me certifiquei que o animal morre de forma digna. Anestesiado, e seu coração para em questão de segundos... Como sobreviver sem tudo que minha Xónia foi e é para mim? Não sei, terei que reaprender porque ela fez tanta diferença em minha vida... Vai doer

e muito, sei que chorarei muito mais, mas eis que é a vida! Caminhar por caminhos incertos, ganhar e perder amores preciosos.Mesmo com o coração sangrando de dor, abrir mão do que era "eterno" e quando nossas "eternidades" fenecem, ah como dói! Será mais um ser que viverá em minha alma mortal até o fim da minha existência e a amarei por todo o meu sempre. E seu nome será saudade...

Elenite Araujo.

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 08/10/2014
Código do texto: T4991243
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