Os lobinhos cresceram e agora são lobistas
Não me lembro do meu velho pai
ter batido ou apanhado.
Estava muito ocupado
e preocupado,
com a criação dos seus filhos.
Éramos muitos, e muitos,
dão muito trabalho.
Os mais velhos já labutavam,
enquanto que,
quem tinha a obrigação
pela manutenção da sua prole,
como todo proletariado,
tentava sobreviver com seu pequeno comércio.
Era apenas mais um comerciante de sonhos
e muitas das vezes,
de terríveis pesadelos.
Não havia tempo
para passeatas e manifestações,
comuns nas grandes cidades,
que ainda não eram chamadas de metróples
e ainda não havia o metropolitano.
E quem apanhou não esqueceu,
mas só apanhou quem mereceu.
Menino bom não apanhava
e quando muito,
só-mente algumas palmadas.
ANOS 60, DO SÉCULO XX.
Mais à frente,
Edson Arantes e companhia,
lá do estádio Azteca, com a amarelinha,
abafava a voz dos fuzis,
e o rato corria, o gato perseguia,
o gato miava, o rato se mijava
e os dois apanhavam
e os dois batiam,
numa idiotice sem precedentes
e mentes arquitetavam,
os dois lados sequestravam
e nunca houve consenso
e nunca houve, também, bom senso
e quem foi banido, bandido ou não,
nunca foi para o Cazaquistão
e nem para apreciar a miséria da Nigéria,
no intuito, mesmo que fortuito,
de ter poder de comparação.
Cresci, mas nunca vi,
o meu povo feliz.
ANO 14, DO SÉCULO XXI.