Novos dias, velhos ais

Novos dias

as paredes se estreitam fechando o cerco

outrora luz abundante

hoje sombras com tantos ais

e minhas dores em relevo

só escorrem

só morrem

enquanto bebo e escrevo .

Novos dias

o colchão pulguento pula e estala e o gato mia

outrora dormia

hoje só agonia

em lentos lapsos ,de coordenação nos pés da mesa

só espera

só moléstia

enquanto o cão late e se coça

Novos dias

desempregado , me mordo inteiro de angústia

outrora vinho tinto

hoje água de torneira

coliformes fecais nadando na língua

só infectam

só esperam

enquanto bebo e escrevo.

Novos dias

o telefone jamais toca de manhã , nem a tarde tampouco a noite

outrora cantava

hoje desbrava

a solidão das palavras, de um amor que não é recíproco

só mudo

só murro

enquanto as paredes aguentam todo o surto.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 15/01/2015
Código do texto: T5102539
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