Mistérios da meia noite

Anoitece no quarto vazio

É cedo, faz frio

Passou da hora de dormir

Quer chorar, de choro sorrir

Pelo chão, álbuns de fotografias

Recortadas de jornais amarelados

Livros, poesias e liturgias

Literaturas de corações despedaçados

É triste o fim de um poeta

Perde o direito à sua caneta

Acaba sozinho em um quarto escuro

Não enxerga mais vida, futuro

Sobe descalço escadas encardidas

Tão sujas quanto suas mãos descoradas

De tintas que nada escreveram, feridas

De tocar em paixões que não deram em nada

Vaga pelas calçadas largas de uma avenida

Não encontra pra sua pena, guarida

A alma nem com ele anda mais

Com devaneios e bebida, se satisfaz

Se soa meia-noite, há tempos o coração dorme

São mistérios das madrugadas vazias

Sem inspiração, a mente morre

E as mágoas, crescem arredias

Até a sombra lhe abandonou

Como não pode partir, de longe observa

Seu dono, poeta infeliz que um dia amou

E de pena, se consterna

Maldiz ele, os novos poetas

Diz que não sabem o quão irão sofrer

- Os poetas tornam-se antigas moedas

Na mão de quem os quiser obter!

Penso em um motivo pra esta triste criatura

Que sofreu por amar demais, por escrever

Um poeta nunca sorriu com candura?

- Não, um poeta só faz padecer!

Flávia Jobstraibizer
Enviado por Flávia Jobstraibizer em 19/09/2005
Código do texto: T51745