Lembrança melancólica

Não acredito que eu seja esse rosto pálido,

E essas tremulas e rugosas mãos,

E esse desespero que me toma,

E essa triste que me soma

(Não, subtrai),

E esse canto de melancolia,

E esse ser que não sou eu.

Seria a imagem de meu pai?

Eu não tinha essa voz outrora,

Fraca e esforçada.

Muito menos essa ausência de devassidão.

A única coisa que me resta dos meus idos,

Que se soma e que me toma

(Até mesmo me subtrai),

É o medo da morte que me atrai,

É o medo de perder o minuto que me trai

E é o mesmo medo que me retrai.

Maldito é o espelho que me fita,

Saudosa é a onda que se agita

(E logo se vai).

Triste é a solidão porque amei.

Adeus lembranças na minha decrepitude!

Eu não tinha esse olhar raso e vago,

Disso eu sei.