UMA FOLHA RASTEJANDO
Quando uma folha cai,
levando consigo o orvalho,
sua vida será breve,
desgovernada.
O tronco arregala os olhos,
leva o seu olhar até a raiz,
aquela folha foi perdida,
levada pelo vento.
Agora os braços ficaram curtos,
abraçam menos, um dos seus
dedos foi amputado,
abrindo o sorriso de uma formiga.
Por que os olhos choram?
Por que o tronco balança?
Por que o coração continua escondido?
Por que o vento pensa nas formigas?
Que jamais se perca a seiva,
que a raiz nunca morra,
que penetre fundo,
que encontre água.
Ainda me resta uma sombra,
ainda tenho cercas estendidas,
entrelaçadas, me abraçando,
ainda sou uma folha (sou árvore)
Tenho casca, pele, miolo,
ainda posso alimentar as
formigas, meu coração
ainda é raiz.
Pedro Matos