Retirante
Cabaça, corda, cabresto.
Coloco tudo no cesto
No cofo carrego a ilusão
Fugindo da fome
Da seca
Que assola o sertão
Seguindo por um carreiro
Sem ter um paradeiro
E nem uma solução
Vou passando e vou vendo
Os bichos tudo morrendo
É triste a situação
Os velhos cambaleando
E os meninos chorando
Cansados de caminhar
Com sede e com fome
Implorando
Papai! Vamos parar
Eles inocentes não sabem
Quanto tempo a viajem
Ainda pode durar
E o pior é ter a certeza
Quem não resistir a fraqueza
A morte vem lhe encontrar
Quantas famílias um dia
A sua terra deixou
Seguiram sem destino
E nunca mais voltou
Algumas tiveram sorte
Outra, pelo caminho ficou.
Ninguém sabe o destino
Que Deus nos reservou
Uns nasce com sorte
Chega até a doutor
E aquele que fica na roça
Pra sempre, vai ser agricultor.