CARLITOS

CARLITOS
Miguel Carqueija


Pelos caminhos do mundo
vou seguindo triste assim,
porque eu sou um vagabundo
num sofrimento sem fim!

Pelas estradas da vida
eu levo minha vida ao léu;
já tive mulher querida,
hoje o que eu tenho é o labéu!

E o meu sapato furado
sacode o pó da estrada;
perseguido, desprezado,
sem destino e sem morada!

Não me pergunte a razão
de viver ao Deus-dará;
pois de tudo eu abri mão,
razão lógica não há!

Meu caminho é de amargura,
de fome, de solidão;
tenho no peito doçura,
vejo no outro um irmão;

porém a sociedade
não me dá chance de ser;
por toda parte a maldade
me coloca pra correr.

Sou romântico e bondoso
mas não encontro o amor;
e assim vivo temeroso
e curtindo a minha dor.

Sou patético, admito,
uma figura irrisória;
mas contudo eu sou um mito
que entrou para a História!


NOTA: Carlitos, o vagabundo, é um personagem criado no cinema por Charles Chaplin (1889-1977), cineasta e ator inglês radicado nos Estador Unidos. Inicialmente o vagabundo (the tramp) surgiu em filmes curtos e mudos produzidos por Mack Sennett em 1914; sua última aparição oficial foi na longa-metragem “Tempos modernos” (Modern temps), de 1936.


Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2015.



imagem do filme "Luzes da cidade" (1931): Charles Chaplin (o vagabundo) e Virginia Cherrill (como a florista cega)